domingo, 26 de dezembro de 2010

O Tal Diagnostico...O tratamento e o O caminho


Quando, depois de passar pelas mãos de vários “profissionais” da área de saúde mental, finalmente voltei ao país onde originalmente comecei a tomar remédios, com a cartinha em mãos do psiquiatra que me atendia voltei à psiquiatra que me atendeu por primeira vez, e comecei a fazer uma bateria de testes com um psicólogo – esclareço, é importante separar o atendimento psiquiátrico do psicológico, a eficácia do tratamento e seu resultado são muito mais rápido isso também inclui a sua cooperação e a da sua família, só melhora quem também está disposto, o remédio faz 50% os 50% restantes é conosco!- e fui diagnosticada como Bipolar por assim dizer, vulgarmente, do tipo inofensivo, na época, agora faz três anos, estava em estado de choque, portanto para mim dava no mesmo.
Fui submetida à terapia intensiva, seção com psiquiatra uma vez por semana para controle e estabilização dos medicamentos, e às vezes até duas vezes por semana com o psicólogo para terapia, a qual eu mesmo com a férrea decisão de melhorar inconscientemente me sabotava e faltava umas quantas vezes.



O meu primeiro ano como “bipolar” realmente foi totalmente sem noção, eu dormia muito devido aos remédios, passava muito tempo quase que dopada, não me preocupava com o que as pessoas iam pensar com o fato de eu estar tomando toneladas de remédios, eu queria me curar e isso era o importante para mim, mas, mais importante ainda, eram a raiva e a magoa que eu tinha dentro de mim pelos motivos que tinham me levado até aquele estado.
Superar aquela questão foi o passo principal para melhorar, o seguinte foi começar a reduzir os remédios descobrindo pequenos prazeres que eu poderia me proporcionar.
A realidade não é fácil quando seu mundo desaba e tudo aquilo em que você acreditava era uma mera ilusão, porém por mais brega que isso soe, até dou risada por dentro ao escrever isso! Sempre há, e sempre vai haver um novo começo, e o novo começo para mim foi quando eu me permiti me despojar de tudo aquilo que tinha sido para começar do zero e me reconstruir.
Eu queria melhorar, eu sabia que podia, uma força dentro de mim dizia que eu era forte e sempre havia sido e não seriam meros receptores falhos em meu cérebro que iriam me derrubar.
Meu primeiro ano terminou, e eu havia engordado 15 kg, perdido toda minha auto-estima, me desfeito dos vínculos familiares, e ainda tinha muita raiva para colocar para fora. Exceto pelos meus pais e meus irmãos, eu estava completamente sozinha. E era por opção. Eu não agüentava mais escutar que era afoita, impetuosa, que minha risada era alta, enfim, coisas pelo estilo.  
Passei Natal e Ano Novo frustrada, comecei a não gostar destas festas, até hoje não gosto, geram em mim expectativas que não sei controlar e terminam me deixando triste e frustrada por não poder atinar meus ímpetos.
Minha meta no ano seguinte foi a de encontrar certo equilíbrio, experimentar voltar a trabalhar, tentar manter uma rotina com o sono, e claro, reduzir ao mínimo os remédios. Foi uma proposta difícil. Tive que enfrentar desafios que de longe e para uma pessoa “normal” parecem efêmeros, mas houve momentos em que me encontrava pela casa sem saber onde sentar, aonde ir, onde me localizar, e caia em prantos descontroladamente escondida em algum lugar da casa.
Passava semanas onde meu sono era regular, dormia a noite e acordava de dia, logo voltava à rotina notívaga, saia de um processo super produtivo e entrava em um completamente vegetativo. Houve dias em que não conseguia dormir em minha cama e outros que não conseguia sair dela.
Foi quando comecei a me observar e a prestar atenção em mim e a me calcular; ia à psiquiatra e lhe dizia “esta semana estou assim ou assado, não quero ou quero tal remédio para dormir”, “não penso que haja necessidade mais de que eu tome tal remédio duas vezes ao dia, que tal se agente experimentar?”, então, me observando, conversando e pedindo permissão à minha psiquiatra ao longo do segundo ano fui conseguindo reduzir os remédios, de sete, a três.
Agora eu tinha o controle, desde o principio com os remédios, a regra era: independente da hora em que se durma ou acorde, se sente bem ou não TOME! Eram dois anos seguindo a risca algo que supostamente duraria cerca de oito meses. Quem era eu para questionar?
Passei o melhor Natal e Ano Novo, sozinha!! A família viajou e eu fiquei me remoendo com a cachorra, mas, realmente, foi muito bacana ter ficado sozinha!
Agora vinha o maior desafio, com menos remédio a responsabilidade era maior, eu havia conquistado uma grande independência, pois quando voltei a viver com meus pais estava muito mal e eles me colocaram em uma redoma de vidro e tudo para eles era culpa da doença, agora minha missão era saber separar minhas atitudes dos sintomas da doença e transmitir isso aos meus pais, a tarefa que eu tinha pela frente não era fácil.
A primeira coisa que eu fiz foi juntar informação que eu já havia recolhido sobre mim mesma nos último ano, como era meu comportamento, minhas reações, e logo me lembrar de como eu era antes do choque que eu sofri, foi então que eu conversei com meu psicólogo e lhe pedi umas férias, realmente eu só voltei a vê-lo uma ou duas vezes a pedido da minha mãe que ainda confunde tensão pré-menstrual com episódio bipolar...
Bem, continuando, pedi um “time” ao meu psicólogo, pois realmente não agüentava mais falar sobre quantas vezes tinha piscado por dia.
Flagrava-me em meio a ímpetos, em meio a momentos de completo descontrole, e assim me freando, me vigiando, me controlando, e às vezes de saco cheio de tanto autocontrole forçado mandava tudo pra PQP e ia para meu cantinho pensar em como a vida era ruim e  recuperava as energias, ou não, passava uma semana na cama sem vontade de nada nem de que ou quem, e dizia apenas: faz parte, vai passar!
Com o passar dos meses eduquei minha mente, me desfiz dos costumes “bárbaros”, da risada descontrolada, da agitação desmesurada, da tristeza sem motivo e ganhei uma lucidez digna de um prêmio que nunca ganhei. A não ser a satisfação pessoal de dizer a mim mesma “bem, metade do caminho eu já trilhei!”.
Então há uns dois meses eu convidei meus pais para virem comigo a minha sessão com a psiquiatra e lhes comuniquei que estava estável, - êpa! Calma, muita calma nessa hora garera! Geralmente um paciente quando corretamente diagnosticado bipolar leva no mínimo quatro anos para se estabilizar, e tomando lítio o que não é meu caso, além do mais eu ainda tenho muita coisa pela frente, tipo, conseguir um emprego, sair de casa (outra vez), independência financeira e etc. - bem comuniquei aos meus pais que eu estava estável, o que não me exonera de uma ou outra caidinha na cama ou uma noite insone por ansiedade, coisa que acredito seja por falta do que fazer.

Lembre-se sempre, se você não se ajudar primeiro, a ajuda que te derem não vai fazer efeito!

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